quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

linha, ponto

Investir numa cegueira,
é apropriar-se do vazio,
desfilar na escuridão
e cair em ilusão

alameda só
final da linha,
nem ponto, nem nó

Noite e dia

Um casebre ao pé do morro é cercado por flores selvagens que nascem sugando a vida de outras plantas e desabrocham firme, fortes e colorindo a paisagem seca daquele cerrado.
O sol é impiedoso e castiga a lucidez.
Molestado, você estende seu corpo febril do calor numa rede suspensa no ar à sombra, refrescando-se com a brisa suave que vem no balançar daquele tecido de malha de algodão. Manso e sereno, descansa ao som dos pássaros e ao farfalhar da vegetação ao redor. Enquanto ela, numa atividade incessante, transita entre o deck e a ducha por todo o dia corrido, mudando as posições conforme as superfícies do corpo sendo bronzeadas. Impaciente, quer ver o resultado sem passar pelo processo e suportar o presente, que é abafado e intolerável.

O dia cai e a réstia dos raios de sol despedem-se do casebre, da rede e o do deck, inaugurando o momento mais sublime, entre o dia e a noite.

A noite chega e junto dela o desejo insinuante que mora na flor da pele. Ela pousa em seu repouso como o aterrar de uma borboleta sobre o chão. Encontra seu corpo: os pelos eriçados, a pele arrepiada.
Estimula em ti o que deseja saciar em si. Uma sede imensa, um cansaço vencido, uma convulsão.
Encontra satisfação e no íntimo, de seu toque voluptuoso, extrai a mágoa profunda da carne, dor antiga que se dilui no humor aquoso que umedece a boca.
Sussura palavras doçes ao pé de seu ouvido; amanheceu!