sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

cútis

Transpira as mãos, cerra o punho e desliza os dedos na palma, semi aberta e trêmula.

Mantêm o olhar atento e efusivo, aguarda a brecha para ser original.

Quer ser pilar do castelo de cartas com respaldo do real.

Inventa, imagina e compra as idéias.

É um mercador de desenganos.

Traz no corpo o paradoxo, o desassossego disfarçado de quietação.

Na gangorra se cala e fala como faca afiada.

Não se conforma com a rejeição.

De prontidão contorna com um sorriso largo o abismo das opiniões e enlaça a discórdia sem comoção.

Não é apático mas trata tudo com precisão.

Pálido, conserva o vigor.

Sozinho passa blush, dança de salto alto até o chão.

Ele e ela se incutem.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

agora ou nunca e sempre

Preso a terra, as frutas nascem do pé. Caminhamos conscientes para a cova e do calcanhar tiramos força para esta travessia.

A – O agora é tudo o que tenho, nada perco e tenho toda a possibilidade de ganho.

B – O futuro é o para onde me dirijo, toda cautela agora pois daqui repercute meu trajeto.

A – Isso de pensar à frente de seu tempo é uma maneira de encaixar as peças de uma engrenagem de uma máquina grande e voraz que supõe nos comandar. O presente é o desenvolvimento concreto e em tempo real de habilidades humanas, independe do projeto.

B – Hastear a bandeira do presente é inflar-se de vaidade, diante da criação e disseminação de momentos inteiramente construídos pelo esforço pessoal e consequentemente provocar uma crença neste forjador.

A – Equivaler o encantamento a uma fantasia é uma das coisas mais incrédulas, a vida tem seus momentos, suas travessias, ascenção e declínio. Prever é gastar energia do presente para um futuro confortável, abdicando da percepção do instante em que tudo pode mudar independente de sua fé num futuro aguardado.

B – Você parece um irresponsável, você pode perder agora por não se prender à nada e a soma de todos os instantes, o acúmulo do agora é o futuro. E se cada agora preso à nada é um futuro vazio...

A – As coisas derretem, secam, estragam. São perecíveis. Também terminam e recomeçam. Mais do que algo ou alguém que vai embora fica a história, a memória, o passado por perto, o presente a limpo e o futuro incerto ao longe.

B – Algumas coisas se conservam se são bem planejadas, não considero o perfil do homem somente no seu aspecto biológico, e mesmo assim a procriação é uma projeção que responde a permanência do homem.

A – Acho possível artificializar a vida sendo genuíno, mas implicada à inseparável imperfeição do ser humano e sua busca pela idéia e o perfeito que o tornam ao mesmo tempo e junto, ridículo. Enquanto os artifícios estão presentes para suprir falhas humanas, o estímulo do homem é justamente a busca para significar sua falível organização sendo transfigurada no desespero do desamparo. A solidão que habita cada um como verdade superiora e os artifícios para viver a mediocridade comum;

domingo, 2 de outubro de 2011

Excepcionalmente comum.

Pessoas são venenos da venalidade de suas paixões.
O bem querer é a ratoeira que vê acima de maneira ampliada o caminho do rato.
A proximidade também é despojar-se do que é seu, ao concordar pensa-se também no inverso do que o outro diz.
O dia gira em torno do sol prevendo a noite.
Aqui não é Natal, papai Noel não vem.
O comportamento pede um copo, de coca, vodka.
Terrenos são senhores, valores são insanos.
Procura-se e admite. Inadapta-se e treina evolução.
Chove chora lá fora, coração no domingo botão de flor.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Modestamente obscuro

Considerava ser um erro.
Era o erro principal que acertava pois tinha a certeza de que tudo sempre daria errado.
Ameaçada pelo seu lado sombrio, deixou vultos passageiros em sua trilha percorrida.
Marcas fugazes de feridas fantasmas vinham de dores agudas infiltradas.
Quando emergiam, cuidava para não ofender mas a enxurrada escorria sem eiras, nem beiras numa corrente impetuosa.
O medo interno transformava os ciclos em rotações aleatórias.
Invariavelmente revelava a verdade de uma invisível existência calada.
Esta desmantela o rígido que rege o certo e reorganiza-se ao rogar sua aflição.

Hipopótamos

Ela dizia algo e todos a sua volta diziam justamente o oposto do que ela dizia.
Era uma contradição entre as coisas ingênuas que dizia e a percepção desse algo atribuído, dito errado que a regia e que não complementava nada e nem ninguém.
Ela não era parâmetro mas era modelo de coisas erradas.
A mágoa ficava ao fundo de tudo e reverter esse quadro era tarefa pesada e sem aliados.
Tinha ciência que os outros operavam seu destino, vista como bobinha, infantil e previsível, presa fácil que decidiu soltar o timão.
Para os governantes: essa nau segue em prantos, entorpecida, embriagada.
Uma demente, única e especial que em situação iminente de soltar lágrimas, que nada transformam, ri de hipopótamos.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Matéria, matéria em decomposição

matéria,
que compõe o brilho
dos que tem grande coração
campo de batalha onde
o vencedor encontra o ouro
Este que brilha,
pesa em nossa mão e
atrai uma multidão
Busca ao tesouro
inscrito em brasões.
Alguns, pegam pedaços
outros tocam em nuvens doces e
melam essa obstinação.
Imbatíveis e determinantes
achatam e vangloriam
respectivamente
o perdedor e o bem feitor.
para o critério externo
aqui a matéria está em decomposição
sem vértebra ou membro
busca abrigo e restos.

Boulevard

O que mantinha a vida dentro
era pura representação.
Numa flor corta o caule e
sua função é decoração.
Seja ela desabrochada ou em botão
sua duração determina
quando derramar a água
para um novo enfeite que
forja vida.
A representação é a contemplação
de beijos doces e abraços ternos
em sua austeridade
enfeitam praças.
Seus corações
compõem um ar do campo
numa atmosfera urbana.
Mas são corruptos,
pois pensam em vender
a imagem da felicidade
para toda a cidade.
Onde a competição
entre duplas formadas
é instalada.
Esses atores, nos bastidores
se deparam com coisas
que não são divulgadas.

trocas injustas

antevê o inglorioso
nos pilares honrados
desbanca a si mesmo
luta por igualdade
percebe o outro com empatia
pisa em sua cabeça
para sentir a pureza
respira o podre
inala a vaidade e
se orgulha da simplicidade
Inverte os sentidos orientais
deste lado pensa no outro
mas não quer ser vencido
deixar tudo de bom que tem
como herança de um coração
que se sacrificou
pensando no outro
que o envenena.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mulher que inspira a lira

O burburinho da platéia, luz meio fio no salão.
Proximidade entre as pessoas, troca de assuntos sem densidade como a fumaça do cigarro.
Alguns sons emitidos pelos técnicos, vestidos de preto que circulam pelo palco.
Testam instrumentos e aperfeiçoam qualidade de emissão.
Elegantes garçons em seus trajes típicos formais são solicitos e servem bebidas em copos de formas e líquidos de cores variadas.
Cheiros agradáveis da cozinha escapam para o salão.
Entre as sombras tudo está habitualmente funcionando.
Uma luz azul incide no palco: músicos entram com um jeito despojado, destituídos de luxo.
Todos esperam a estrela, divina, magnífica.
Ela, atras dos panos pretos com a face ruborizada detém um coração com batidas ligeiras, controladas pela respiração, profunda e intensa. Pronta para comover, ela é a resposta da espera de quem pergunta, "por que ela"?
Entra vestida deslumbrantemente simples, acena gentilmente para os músicos e se direciona para o microfone ajustado a sua altura com quem faz par.
Os lábios se movem sutilmente e um sorriso aparece. Seus olhos adquirem um brilho, sua forma entre o fitar desperto na platéia e a expressão feliz de satisfação também evidencia marcas de expressão de uma tristeza em sua voz suave diz: "Boa noite senhoras e senhores".
O veludo de sua voz acaricia nossa alma e esta grande mulher desvenda sentimentos na propagação de uma harmonia de timbres e nuances de suspiros naquele salão.
Tão delicada e importante esta proclamação da vida em voz é a descrição da coragem de uma uma mulher que inspira.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Manequim em movimento

O salão admite sua beleza.
Entre os que entram e saem, ela intermedia a passagem com um sorriso trabalhado.
Controla dinamicamente o movimento do salão.
Antecipa gestos e mantêm uma distancia tolerável entre todos por ali.
Enquanto fabrica sorrisos espontâneos para cada cliente, maquina idéias distantes daquele lugar. ´
Sua vaidade é o esforço diário de postar-se integra, dividida entre o aqui e o acolá.
Ao lado do caixa, que freneticamente computa as notas, ela se relaciona com o ritmo.
Cercada de pessoas por todos os lados, entretanto, em seu posto é só.
Dotada de boas maneiras traz suavidade para o local, mas em alguns momentos suas mãos cruzadas denunciam insegurança e aflição.
Tenta ser natural porém como cartão de visita, sua aparência é fingimento.
É um objeto atuante para o bem estar alheio.
Não é subserviente, o que por vezes causa antipatia.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Retrato de uma degenerada na cozinha

A saudade do rosto fervoroso, bocas repuxadas que confidenciam o desejo que extrapola do corpo e das palavras, Beca e Joca se encontraram ao ar livre num sábado ensolarado e tiveram que se comportar.
Neste calor, a brisa foi ficando fria e as vestes inapropriadas para o local.
Refugiados para o interior de suas casas, passaram pelo tempo até se encontrarem novamente, na noite fria.
Já na casa de Beca, a interação de Joca com seus familiares mexeu com os brios de sua mãe que orgulhosa do relacionamento de Beca, exerceu o papel de uma matriarca típica querendo provisionar todos os itens relacionados a cozinha.
Beca tem uma aparência mais frágil, mesmo pontual, incisiva, assertiva e intensa no seu comportamento, casca de um espírito de índole sentimentalista. Sofre de um reconhecimento estranho, que si própria se convenceu ou por convenção de forças externas. Assim, Beca é repelida de algumas funções hereditárias da representatividade da mulher, vista como um tipo degenerado, que corrompe o padrão e ameaça a família e a tradição.
Por isso a palavra dela é de ordem, atualmente, no âmbito familiar. Conferindo a conquista de uma autoridade ao formar um par amoroso, com Joca, mas seu espírito é esmagado pela orquestração social e para ela tudo é absolutamente definitivo, quando para o outro, no caso seu par, de acordo com as circunstâncias, relativiza.
Para Beca, isso é inadmissível uma vez que tem espírito de índole sentimentalista, o que é terminantemente inseguro para Beca, que tem uma expectativa de estabilidade e acredita que o amor é incondicional.
Joca como economista, aborda a realidade com perspectivas concorrentes e ao mesmo tempo opostas e sempre abre possibilidades nos fatos vivenciados em comum ou histórias que mexeram com Beca.
Mas é precisamente nesta crença irrestrita e independente do amor incondicional que Beca ,uma vez provocada nos nichos sociais provoca em Joca, a partir de seus rumores, escândalos pessoais: subversão da ordem, fúria e revolta e encontra nele o amparo emocional que descarrega como um raio.
Nesta tempestade, sua mãe, que provisionava itens da cozinha, evidentente, não destituída de sua robustez e vigor de uma dona de casa, em seu castelo de afetos ordenou desapercebidamente Beca que com um orgulho ferido, acatou as regras da mãe com um controle fervoroso ao retirar do armário inferior da cozinha objetos que encobriam o recheau para o fondue daquela noite. Beca manifestou-se contrariamente com um pingo de razão: a recusa do recheau, que não tinha fogareiro. Ao sua mãe acatar a esta observação, Beca inverteu a ordem natural de mãe para filha.
O positivo é que sua vontade prevaleceu a despeito da sua mãe mesmo sem concordância, mas foi impelida a se redimir por não estar acostumada a esse tipo de poder que exerce.
Miséria fonte de riqueza, índice de esperança.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ver o ritmo, ouvir o escuro

A luz inaugura o dia
e silenciosamente dita o ritmo
A noite vem calada
na sua escuridão
não se vê nada.

no more tears

Se entre nada e nada não pode existir nada, um brinde a ninguém pelo menos.
Para sombras ocas de vivos que estão mortos, um brinde ao nossos corpos.

vem

É tão distante pedir. Tão perto saber que não há

depois da virada do ano

Enquanto isso,
puxa a história atrás de si,
fixa momentos,
arrasta sensações,
adota procedimento.

Se lança, recua,
fica imóvel.

Recebe o novo,
se reinventa.

Contribui e modifica.

Se inclina para o vício e é feliz?

humor do tempo

Ver a imensidão do mar, sentimentos a navegar.
O céu para dissipar a angústia,
as nuvens para esquecer,
o sol para alegrar e
os passos pela areia que querem te encontrar.

de um ponto ao outro, o interesse como um ponteiro

Ítens da bagagem entre o acessório e o essencial.
Levo o necessário, carecendo de você.
Imprecisão com hora marcada.
A distância fica no meio, eu vou.

amostragem do universo

um estado apocalíptico conformado:
diante da impermanência e vacuidade
é precisamente as causas ocultas
que explicam o mistério,
em revelações secretas.
Minha finalidade é discreta.

sem(n) ti

Aqui, de perto, te aperto
Pronta para apartar
Aporto em sitio ermo
Ergo uma horta
De mim mesma
No recolhimento
Me perco

desenho

danço por extenso de tão denso meu sentimento
impostos para o bem comum mais falta do que tem, despossuída, ouço o diabo bater em minha porta.
Duração
Árdua condição
Entre extremos
açoite e gozo

Fronteira defronte
aa fraqueza refratária
Frieza e febre
dita e devora

Amor, amor
toco de vela
a chama chora
a fumaça escapa

Fica o limite
De modo que não toco
um tambor branco
Em silêncio

amargura

etéreo, eterno, terno
um drink no inverno
com limão, coração!

colorir

hesito: mas opto por não deixar nada em branco

desnorte

fim do dia inicio da noite,
sem a energia do sol nem penumbra que acalma ...agora,
no meio do nada,
sem nome próprio,
apenas o efeito de transição.
Trânsito como um átomo sem astro.

o/os

economia afetiva:
se positivo,
saldo credor,
se negativo,
rendimento da solidão

anticiência

não é mentira é o contrário da verdade, talvez incerteza

cópia legítima

vou imitar o que me inspira,
olhar para fora para não esquecer de mim,
reinventar para não ser mal entendida.
vou imitar o que me inspira, olhar para fora para não esquecer de mim, reinventar para não ser mal entendida.

o que há e o que é

rumor do mundo, falso e avulso.
murmuro: é imaginação.
nesta trajetória sou espelho da história.
agora em diante tudo é memória.