quarta-feira, 16 de maio de 2012

descontínuo

Coisas acontecem sem notícias, mas com pistas.
A neurose é escolha sua, mas quando envolve àquilo que selecionou a única saída é ser maníaca.
De olhos vendados, tateia a realidade e consegue ver mais escuro que sua condição.
Indistintamente, o escuro vem a ser a pista em busca do fato.
Uma fugaz percepção é o acúmulo de aflição num volume de horror.
A partir do fato registrado da vigorosa linha imaginária, não se desfaz.
Na trincheira morde os lábios.
Sensibilidade que gela e rói, dói como bolso furado quando há de pagar a conta.
Circunscrita na fantasia, abandonar este estado extravagante é psicótico.
Ora! E se o fim fosse aqui? A interrupção:
O que não continua iria me perseguir com passos invisíveis,
ou simplesmente uma ruptura rígida me faria suspender o passado e deixá-lo atravessar sem resistência.
Não seriam livres de escoriação, habitaria ainda o medo, a dúvida, a perda.
O roubo, que justiça resolveria isso, se acontece às claras.
Vivo esquecida.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

janela para dentro

Aos dezoito anos Sofia conheceu Xavier de cinquenta e cinco anos.
Um homem abastado, de família tradicional e conhecido como possuidor de milhares de cabeças de gado.
Manteve Sofia em troca de sua beleza e juventude que foi se escondendo da sociedade local inclusive dos parentes mais próximos.
Temeroso de ser abandonado, sua atitude machista era o reflexo de sua insegurança.
Sofia só frequentava médicos do sexo feminino e se vestia com roupas taciturnas.
Dos quatro filhos nascidos do dono das terras, apenas um era homem.
Cresceram numa grande casa aos cuidados de funcionárias, enquanto Sofia cuidava de uma profunda depressão.
De dentro de sua solidão cercada, muito próxima do abismo social e da geração distante de seu parceiro. Tinha uma força pungente que assoprava o destino seguro dos seus.
Não vacilava na educação rígida e casta das meninas e não economizava na elegância e esperteza despertada em seu primogênito.
Mas doente da falta de alegria jovem, cenários coloridos e experiências doces, espetava todo o amor confortável e malemolente como um dedo indicador em riste apontado para o progenitor.
Sem saber que tinha escolha, ficou sem dúvidas e sua estima carcomida.
A casa foi reformada para refugiar as meninas.
Dormiam num quarto com a janela com vista para o lado de dentro e sem espelhos em seu interior.
Às noites eram trancadas para não saberem da desordem e privilégios do irmão mais velho.
Sem acesso a luz não tinham do que reclamar, eram filhas das trevas sem ciência de sua escuridão.
Os prazeres despertados era a leitura da biografia de santas.
A iluminação estava na proteção divina, uma vez que Xavier faleceu na juventude da prole.
Sofia conheceu o esconderijo e só sabia transmitir isso.
Mesmo com a morte de Xavier, além de taciturna, virou uma viúva sombria.