Uma alegria desprende após as aulas de teatro, incluso
dança, ritmo, gesto e troca.
Desemboquei no curso universitário, sem dúvida e direções
festivas, o improvável. Constituída de muita coragem e uma pitada de
excentricidade, menina, recém formada na escola, raspei o cabelo.
Família arroz com feijão de ousados experimentos; acender um
cigarro no jantar em restaurante na área de fumantes, aos 18 anos, era minha
emancipação.
Apoio incontestável e desvairado no ingresso do curso
superior, inédito na universidade com apenas uma turma formada e incerteza de
colocação profissional para as habilitações que oferecia.
Formada no diálogo, estrutura de pensamento e falhas.
Formada no diálogo, estrutura de pensamento e falhas.
Matriculei-me após pegar uma fila, momento este da inscrição
dos aprovados, um vestibular sem concorrência e pouca divulgação, do curso de
ementa curiosa. Ali, acompanhada do meu pai, na fila, pessoas vestidas
coloridas, confortáveis, despojadas formavam um seleto grupo de malucos
conscientes. Um sujeito alonga as pernas e essas vinham na altura do topo de
sua cabeça, invejável habilidade de um bailarino; figura excepcional.
Anda acompanhado de um caderno de espiral, pequeno, onde anota constantemente extração de falas proferida pelo professor. Aulas teóricas e práticas, teóricas práticas e práticas teóricas, rico estar. Espontâneo, trabalho, preciso e complexidade desembarcada.
Anda acompanhado de um caderno de espiral, pequeno, onde anota constantemente extração de falas proferida pelo professor. Aulas teóricas e práticas, teóricas práticas e práticas teóricas, rico estar. Espontâneo, trabalho, preciso e complexidade desembarcada.
Invejava o conteúdo selecionado no caderno de anotações do
bailarino. Era um estranho que abria meus olhos para a experiência de vida de
seu universo distante do meu habitual mundo decorrido da escola.
Enquanto tudo era novidade, na sala de aula os costumes do
mundo privado da Roma Antiga, ao
contrário do que tinha ideia de berço de civilização, o perturbador Nietzsche,
alertados pela professora Yolanda a não elegermos a seguir como sábio.
O bailarino virtuoso tinha uma visão superada dos meus
primeiros passos, de quem já leu, mastigou, digeriu e organizou o pensamento. Fazer
grupo com ele no tema do corpo na filosofia, não havia esforço mínimo, seu
desdobramento na emissão da opinião era para mim um pseudo-fingimento compreender.
Não expressava meus
entendimentos por estar presa ao primeiro contato, na literalidade do autor com
a problematização da professora e a resposta dentro da grade. Não aquele múltiplo
de persona, que a expressão vem de prontidão conforme sua face de artista.
Outros colegas exerciam fascínio no comportamento, dissecados como nas aulas de
anatomia, revelavam particularidades: tatuagem, piercing, vestimenta, grupos, histórico
familiar, sexualidade, caso entre aluno, admiração por professores, gosto
musical, jogos, drogas, viagens.
Com alguns havia empatia, mas o ambiente era tão diverso que
não me prendi a nenhum nicho, se é que existem. Passava por entre os tipos e
desprendia em mim uma identificação fugidia. Me modificava a cada dia por
influência.
Não pertencia nem a um nem a outro, nesse tanto, negava tudo
que constituía o reduto familiar edificando um forte solitário.
Com a instrução da academia, o conhecimento se fundia aos problemas
familiares, em análises e sínteses, entre as teorias e práticas. Tinha
facilidade em aprender, até hoje meus conhecimentos mais valiosos devo à
educação anticonvencional que obtive.
Todos era poiesis, havia expressão dentro e fora das salas, como
tomar banho de chuva na torrente permitido pelo professor ou sentar-se em
círculo e questionar, por que usamos roupas?
Do meu jeito sem preconceito e um bocado estreito, não tinha
cartão de visita, mas circulei entre todos extraio daquele espaço as diferenças.
A paródia veio muito tempo depois, havia em mim um respeito
absoluto pelo estabelecido, mas a chacota, da Xuxa, seria maravilhoso. Entender
imediatamente o escárnio, da mídia, dos outros e de si próprio é o que
estabelece.
No começo, experimentei meu corpo, ossos, articulações e
musculatura enquanto que a exposição da experiência e conhecimento chegaria e
chegou.
Vi moça beber sangue de sua menstruação, menina amamentar
mulher, mulher nua com galo, pintar o corpo com batom e enfiar perna de boneca
na xoxota.
Senti cheiro podre de peixe, vinho e carne lançados no
corpo, filé bovino costurado no lenço.
Mas tinha os sutis, esses eram pássaros, percursionistas, nipônicos
e mágicos.
Incensos, defumadores: de alecrim, arruda e alfazema.
A faculdade é tradicional, suporta outros cursos, mas os
alunos este curso em especial tinha suas necessidades encarados como devidos
direitos, foi feito um manifesto. Lido frente à retoria, os alunos se
vestiram de preto, deitaram ás 18 horas, horário turbulento, entrada do pessoal
dos cursos noturnos e frente à entrada principal, dificultou o acesso assim
como eram privados pela instituição, diziam “O corpo quer espaço”.