terça-feira, 30 de agosto de 2016

Hora marcada para tatuar hena


Tem em minhas mãos noturnas a linha da vida que encontra dedo médio, prospera a imagem da hena por toda a extensão de alcance, antenas com tempo marcado. 
Sarah, garota de pele branca, nariz avantajado e cabelos caídos por sobre os ombros como um manto de introspecção, reflete a culpa expiada das estrelas.
Pontos celestes sob aflições.
De brilho vívido, experiência decadente, alavancadas genéricas, porção legal, dose ilícita, marca feita procura encontro sob medida.
Unhas mordiscadas no canto de boca solta veneno doce, um segredo de limar relevos ásperos, provoca brilho.
Na disciplina de forjar por um lugar, assento provisório guarda prazer de homem que tem fantasia.
Corrói minha alma mesquinha da gentileza volátil.
Pensamento,  feituras. Teço exteriores no corriqueiro mulher.
Teias extensas movem a luz da presa, instala aranha de patas negras e finas em pesar obscuro da vontade, no verso, na prosa, no traço, no ponto.  
Enrosco e procuro vítima, desenho escarlate, A, feminino. 
Enquanto indivisível,  crível rímel, lavar e secar.
Seu é estilhaço do todo, enfeite úmido, escolha, destino de corda.  
Parte o bolo em fatia, e mais uma fatia, e mais uma fatia. 
De espera, de confeito, de desobediência do calar, do imediatismo do sentir. 
De tanto querer o que não lhe consome, de consumir o consumível, de sumir com o consumido, do consumido sumir, o consumado dar notícia para o próprio estado de sumiço, somar ao só. 
O sal e o açúcar. O saleiro e a diabetes, a tireóide e a festa. A dieta do olho gordo.
Na estática do cabelo em pé, do inseto que vem em meu nariz, do reflexo para retirar com olhar ágil, faz tufão com mão e quer adentrar ao perigo, mais adentro que a passagem para o calabouço, prisão escura, grades de ferro, caldeirão de vidas olhos negros não querem liberdade. 
Quer lanças, espadas, machados, estrelas ninja e acertar um cenho. 
Um olhar cristalino, puro, aquele que navega em azul, inocente, minha ondulação aquáticá, gentil quadro de minha tangente.
O sangue não escorre, somente procura o defunto da idéia. 
Mira livros, análises, posicionamentos,  Sempre independentes.
Comete a alegria do para sempre, vivendo os laços de cetim, frous frous e catedrais de lã. 
Laça forte o cadarço e velcro e pisa brava na brisa.

Perna reage em estalo do músculo, um salto muscular, Rejuvenesce na caminhada.  

O lance é que com a cabeça no lugar procura a ignorância que habita por completo na meditação de sentidos. 

Sendo quer ser mais, assim esquece o que sente. E muito assaz procura o todo para contar ou inventar. 
Quer inteiro, conferir por seus saltos as dores de cotovelo, confeitar doces, fatiar bolos.

Mãos noturnas, pulseira, dedo médio, linha da vida.

Em oração, bolinha por bolinha, deseja a vontade, vontade de matar. 
Quer dedicar um mausoléu, docemente assassina. 
Baía de aflições, ilha de alegria. 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

do incompreensível ao indelével

Me leva para praia, para o campo.
Assento de couro, música alta, vento no rosto.
Lagoas paradas de superfície calma e profundidade turbulenta.
A cada km corrido vou me ajustando a você.
Fora dos limites de São Paulo, a fantasia de roça, de praia com coquetel, biquini e piscina.
Descobrir o que te apraz é meu alimento, aprendo teu alimento, nos alimentamos das diferenças.
No frio seu agasalho nas quinas das minhas tangentes, me fazem rondar em volta de sua proteção.
Da fragilidade da inocência, do sucesso do interesse, da união de princípio de história.
Na cama na primeira vez, foi do jeito que a moça deve ser, na segunda, terceira...foi martelando a posse, a perda, a falta, o gasto.
Da importância das histórias, a fim de fazer a história, tantas histórias no teatro.
Muito bom, muito ruim meu conhecimento perdia para uma carne e voz, a qualidade de acordo com nossos vinhos depurados no paladar.
O cinema era em dia, o europeu, o argentino em todas as tramas uma pulga atrás da orelha, mas as músicas eram nossas sem fantasia.
A vida junto caiu na realidade da labuta, música enlatada, teatro para o novo, cinema para colar.
Toda cultura da nossa novela, repete o episódio da vida breve e só uma, com personagens novos.
Musas da plateia, atrizes sendo pessoa comum, o espetáculo é nosso fim.
Vem, vem. Isso, mostra, expõe.
Devagar ou rápido?
Vai no seu tempo, do jeito que você gostar.
Ah que bonito, que delícia. Mas é isso e só.
Quero-quero. Raiva de um, de todos, geral.
As causas todas são minhas, suas são todas minhas, nada meu, nada seu.
Volta aos clássicos, aos lentos, aos tristes, aos documentários.
À catarse, a emoção, à lágrima.
Do incompreensível ao indelével.
Irã. 
 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

sim, ele não é seu


Sim, ele não é seu......
Você namora, ele canta sua amiga, você é casada, ele sai com as amigas dele, você amamenta, opa, momento certo.
Você adota a postura da mulher árabe que sabe mas não fala, você encontra sua paz.
Ele goza.
Você aceita tudo quando namorada, faz suas firulas e recomenda às amigas.
Até ganhar barriga, começa a dar conselhos de fidelidade, de ciclos. 
Faz quiz de sinais se ele te ama, encontra distrações, corre com as amigas.
Momento certo uns pegam putas todo dia, punheta, boquete enquanto você cuida dos filhos pequenos.
Outros querem uma amante trouxa como você.
Vê seu filho crescer e goza com o gozo do seu marido e curte Marisa Monte.
E o homem precisa que você seja trouxa, que suas lágrimas e sua luta purifiquem este pau aleatório.
E você quer passar por esta situação, por cima por baixo, mas atenção:

porque tem amantes que querem que seu casamento dure para ela usar ele a seu bel prazer até você descobrir, portanto descubra na hora certa: com casa e filho.

E seja trouxa.

terça-feira, 10 de maio de 2016

porn food


Na quitanda vi o tomate apodrecendo, rejeitados com fendas qualquer e todas as casas extraem molho. 
Os últimos serão os primeiros, eles com entradas na polpa e meio caminho andado sem a pele era a imagem da fartura, de potes e mais potes armazenados para um macarrão esperto. 
A sensação de tomate vermelho podre com fenda vendo a polpa, quase pelado é o desperdício do bom proveito.
Escolhe as berinjelas cautelosa, cada furinho é certo uma minhoca que passeia na carne, chegou antes que você e tenta adivinhar para não compartilhar. 
O babaganush vem com aroma de roxo no fogo, de lenha que defuma o sabor.
Agrião é ele, ela é couve flor. Ela é beterraba, ele pepino. Ela rabanete, ele couve de bruxelas. 
Todos eles curtem pimentão, cebola e limão.
Faz tosca a torta diz quiche de alho poró. Faz integral torta de escarola. 
Olha as bananas, amarelas, bananas. Cachos. 
Coloca duas tangerinas embaixo da blusa, se exibe rindo da prótese. 
De peitinhos empinados espertos sabe que a Ponkan não tem caroço, o doce da outra perde para a facilidade. 
Compra uma maça por vaidade, duas peras quer mergulhar no vinho, se lambuza com caqui e seu centro de gosma, brinca na língua. 
O abacate tem sustância, pega, aperta, fura, chupa; é peito, é pinto.
Mamão na mesa de manhã, para quem pode, sem semente.
Coentro no peixe, cebolinha no cuscuz, salsinha em muita outras, dill no salmão defumado. 
Todos verdinhos picadinhos areia quase imperceptível deixa sua marca e o tempero da erva.
Peixes sem escamas expostos com suas bocas bobas sobre branco estático.
Passou, olhou o namorado, levou atum na duvida do linguado.
A tilápia e a pescadinha vão se ver na farinha e fritos.
O arenque nem no pão, nem debaixo de rolo de macarrão.
A lula estica na boca, come o corte inteiro ou corta com o dente o que sempre estica.
O polvo beija da ventosa e embarco na nau do argonauta que é um mito frito na manteiga.
Requeijão é Luana Piovanni, catupiry é Mariana Ximenes, queijo branco é Audrey Hepburn, ricota Natalie Portman, mussarela é Julia Roberts, queijo prato Nicole Kidman, queijo brie é Marylin Monroe, emmental é Rachel Weinz, queijo de cabra Winona Rider e mussarela de buffala Sofia Loren.
Isabel Filardis avelã, Tais Araújo castanha do pará, Sharon Menezes nozes, Camila Pitanga amendoa.
Damasco é o homem.
Eu sou todas as pimentas.

ah tem dó, ele fala por si só



Ah tem dó.
Ele manca na minha frente mas atravessando a passarela por cima da avenida seu passo é esperto. 
Seu olho é azul e vermelho é a cor que condena.
Ele quer saber se estamos no inverno, ah tem dó, ele pensa na estação.
Ele é bonito, ele quer saber o que é carisma, ah tem dó.
Ele me oferece cachaça, um bêbado sozinho, ah tem dó.
Ele perdeu a guarda da filha, a ex-mulher não deixa vê-la, tem dó dela.
Ele vai falar com o ex-patrão, não sabe se vai reaver seu caminhão. 
Ah tem dó.
Ele diz que vai fazer a barba, diz que vai ficar bonito amanhã e sorri e a chama de vossa alteza.
Ele diz que ama sua inteligência, ele a ama a cada dia que passa, ele ama sua beleza.
Ela empresta um livro da Zibia Gasparetto, O amor venceu. 
Ele diz que vai ler e anotar, ele conta todo dia o que está acontecendo no livro, o nome dos personagens e o que fizeram. 
Ela imagina ele sozinho lendo, com a perda do amor.
Cada dia que passa se declara seu amor alto e bom som e ela ri descontroladamente.
Cada dia que passa ela evita olhar para ele, ela tem asco de seus pelos.
Ele fica bem de amarelo mas é a mesma camiseta todos os dias.
Ela também é carente mas entregar o ouro quando nem ouro há, fica sem jogo.
Ele não quer saber se ela se incomoda com sua mancada falsa, com suas perguntas burras, com seu alcoolismo, com sua falta de estrutura. 
Seu amor egoísta só se preocupa com o estandarte do ridículo e ela ri descontroladamente. 
Ela só pode emprestar um livro espírita e ouvir suas histórias.
Cada reação positiva ou negativa a ele, o amor dele cresce, ela respeita a chama acessa mas ele precisa dar ignição na vida dele.
Ele não prestigia ela e ele fala por si só.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

olha


Ela conta de sua tia cega enquanto lembra da casa da infância com folhas no chão, grama alta e escadaria. –Muito parecida. Diz
Histórias do passado também trazem infelicidade, lembramos da tenra infância em festa mas acompanha o sentimento que se divide. Não falamos do que desagrada mas está lá em alguma gaveta silenciosa, a desgraça não se conta pois nunca se supera ao ponto da ironia de sua dor.
Olha, a tia cega era inocente, não sabia de nada e ainda assim era enganada, mas sabia de quem desconfiar. Aquela casa trouxe tia Zumira.
-Olha, essa casa, com portão e acima grade de segurança, -Dá para o céu, uma casa de frente para o oceano em SP.
- Que bom que tem essa praça vou fazer exercício.  
 -Agora me conta para que essas máquinas, para quem não tem caminhão?
 -É muito bom para os braços, alonga. 
 -Essa casa é chique.            
- Mulher de bom gosto e marido também.
-Certamente mulher com bom gosto, marido com bolso.
-Vamos escrever sobre as casas?
-Escrever sobre o chique não tem graça, mas se tudo que a gente imagina não for escrito, não existe.
- A imaginação e a realidade, você precisa ler Pablo Neruda.
-Casava com Pablo Neruda, corria atrás de seu carro.
- Olha aquela casa.
-Malibu, essa palmeira parece coqueiro. Eles serviriam uns tapas.
-Nossa essa casa é minha cara.
Paramos. A casa era linda, de pedra, com escada um jardim acompanhando entrada de vidro.
- A essa é a casa do vovô, entrada com mosaico russo, cadeira de balanço.
-Essa é assombrada. Medo. Não é do sonho mas moraria nela.
-Essa é bem sem graça né? Salmão, porta bonita e só.
- Que cheiro é esse?
– Dama da noite. 
– Tá, mas onde está a árvore? 
– Aqui, de flor amarela.
– Só conheço a lilás e branca. (cheirei) Tem cheiro de boneca menina flor que usava toca. 
– É.
-Olha essa casa! Um altar com vela e uma santa. 
– Precisa fazer um minuto de silêncio.
- E essa?  Senta um jovem sem camisa com fones de ouvido. 
– A casa eu não sei, que menino bom. Sentava ali no sofá com ele. Oi Tia. 
– Precisamos tirar foto de todas essas casas. 
– E o menino? 
– Fica na intimidade da nossa imaginação!
-Tem um cata-vento no jardim. 
–Tem também dois pneus. Essa casa é de doido. Olhamos dentro, muitas plantas na mesa de jantar 
–De senhora. 
– De senhora doida varrida. 
– De feirante, olha a barraca dela.
- E essa do fusca vermelho? 
– Ah tem arquitetura legal, é de pesquisador.
- Ah essa é a minha cara. Casa feliz. Que nem sua amiga que se programou para ser feliz.
- Não posso andar nessa rua. Morava ali.
Andamos em silêncio, olhei para cima vi um homem, me assustei e dei boa noite ela também deu.
-Achei que estava vendo assombração dei boa noite para confirmar que era humano, parecia o Frankstein. 
– Também achei, por isso dei boa noite.
-E essa casa? 
– Essa parece do nordeste, bora ver televisão com a vizinha Tia Maria?!
Voltando o percurso.
-Você ouviu? Você ouviu? Não via nada e gritos de homem. 
– É aquele homem na praça agonizando. 
– Onde, não vejo, cadê? Vi, credo, ele vai morrer. 
–Ei, ei, (para o tio da casa da Tia Zumira) Ei, ei você é surdo? 

Achei que eu estava no além, com um homem agonizando na praça e um surdo assoviando em seu jardim de grama alta.
-Você é muito frágil, se impressiona e pode não voltar.

-Eu grito, eu agonizo, mas eu volto.

- Tia Zumira era muito bonita e ficou cega, fizeram macumba com o cabelo dela. Inveja.
- A inveja só existe da propriedade do outro. Alguns querem o carro, nós a casa e levaram a visão de tia Zumira.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

mulher?



O homem precisa da mãe.
Da mulher, ele critica que ela seja noveleira. Da tela ele idolatra a malvada interesseira ou a boazinha do rancho, até a desvirtuada que não obedece a palavra do pai ou a novinha com sonhos.
Ele só deixa você ver novela em casa para não ouvir detalhes do seu dia.
Mulher em casa é um bicho calado e contemplativo que fia o pensamento tortuoso e planeja vinganças perfumada. 
Quando ela quer pegar mais pesado ela lê um livro.
No silêncio tem uma relação de amor inaudita.
A mesa o prazer, a bebida o orgulho, os talheres a consideração (mesmo na troca de mãos), o guardanapo a pretensão e a agilidade, delicadeza ou brutalidade da fome uma história pessoal.
Apetite, dia bom, inapetência, baixa estima, dieta, luta.
Espera a sobremesa para saciar frustração, ansiedade e carência do prazer chegar ao fim.
Inicia trabalho da depressão em cavidade e o convexo dever da louça que espuma e escorre a limpeza.
Distribui o resto em lixos, parte técnica de desapego que se encaminham ao jardim, animal e ao itinerário da cidade na dependência do lá fora.
A casa é uma grande coxa de frango com alecrim roída até o osso da sorte.

Eletromésticos trituram frutas, legumes, raivas; lavam roupas, amores, desvalores; fritam filés, invejas, autoridades; congelam peixes, preços, temores; assam bolos, carinhos, companhias; café; expresso de morte, de amargo, de doce, de fim. Pula para a fruta descasca caráter, economia, saúde.

O homem precisa de ferro e cálcio (etc) para ferver seu sangue e firmar seu osso.
A mulher sustenta rebaixada o papel usurpador da mãe e de seu enigma da posse do filho que não é seu, cuida de terminar tudo que começou. Conservar picles, compotas, marido.

E diz muito casada.

Quer processar personagem bandido da novela, ver a moça do rancho vingar, sofre com a desvirtuada que não obedece a palavra do pai e sabe que a novinha com sonhos pode se dar mal.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

gala



Você pensa que vai me comprar? Eu quero atenção que preste.
Você me elege pelo meu carinho e estou esperando uma fita de cetim para amarrar no meu dedo e lembrar que você lembra de mim.
Presente de armarinho, baratinho, que mamãe visita para fazer suas graças. Ela que cuidou bonitinho de mim, que me vestiu do jeitinho que sua mãe aprova meu bom gosto.
A minha melancolia, de todas as cólicas que me vem e que não devo pensar mesmo sentindo, sozinha a essa função hereditária ao me encolher como feto. 
Me esquento e cuido de mim sem expectativa de mãe que largou a mãe.
Nesta estrada caminho ao seu lado, você em linha reta quer todas as curvas.
As depressões, obstáculos, acostamento é meu trajeto, que sigo andando ao seu lado sem analise da mecânica do veículo. 
Sou óleo lubrificante, sujo, escuro e que pode trocar em qualquer quarteirão.
Começo a rodar mais, gastar mais gás, embuída da alma, sentimento e pensamento que vislumbra um horizonte que se distancia quando me aproximo. 
A caminhada pede graça, ternura e histeria.
Fora do esquadro sem a justa medida, tem a crítica que me iguala a mil, dez mil, todas iguais. Únicas cada qual com seu desenho, de beleza a indecência, de poder a opressão, de liberdade a repressão. 
Como dizia meu pai a dor é mãe e como dói.
Assassino minha complexidade, vivo sozinha minhas fabulações sobre o pé estrangulado, ainda tenho tesão.
Tira minha inocência, quer minha ingenuidade. 
Seu amor estampa a mentira, meu amor é escolha que nunca alcança, indiferença que nego com calor, tristeza que entusiasma com alegria da amiga, amiga que me trai pelo que tenho, sustento o que não é meu.
Vocifero a cólera da praga que alastra em todos meus centros e pela periferia sou bandida, criminosa e passional.
E a razão é o terno de alma boa.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

mala doméstica e casa no peito



Viagem internacional é transpor a porta do aeroporto no embarque carregando mala doméstica e o interior da casa no peito. É despedir da família com dicas e apertos para não entrar em situação de sufoco.
Deixar o namorado com promessa de pureza e celibatos foi a dose.
Escala em Dallas, sem a bagagem, fumei um cigarro do lado de fora do aeroporto e vi uma revoada de corvos barulhentos povoando minha nublada sensação despedida.
Você chega no estrangeiro e as providencias primeiras somam o dobro do dinheiro, você se julga burro por não calcular.
De primeira viagem coisas como o bilhete do ônibus para o mês, pen drive enquanto não perder, pilhas, são troco.
Estar numa homestay tem a vantagem das dicas de sobrevivência, consumos do provisório a preço bom em estabelecimentos como loja de departamento, afastado do centro, que se chega com o carro deles, um atalho.
Mas brasileiro diz: “quem converte não se diverte” e assim gastei feliz no primeiro dia o equivalente a um sexto do meu budget. Pelo desfalque dos próximos meses brindei com café da Starbucks. E grata pelo ritmo acelerado da minha momstay, entrei no mercado da galeria com vontade de comprar nossas frutas de inverno.
1 kg de castanhas de caju e brasileirinho de Maria Bethânia foi meu presente do Brasil.
Queria comer cashues com eles, me senti enganada na loja de departamento, por não comprar shampoo, sabonete e pasta de dente.
A realidade é que eles acham que quem faz intercâmbio é muito rico e desfrutam do dinheiro da acomodação minha em troca da cultura deles.
Porém ficava no porão, aprendi naquelas de pronto em inglês como lavar a roupa na área de serviço, frente a meu quarto na casa pré-fabricada.  
Tinha uma chave do portão do quintal e outra da entrada de baixo que eles também usavam. Momstay me explicou as trancas na saída, falou que trabalhava na CityHall, prefeitura, fumamos um cigarro juntas e me recomendou o DuMarrier.
Senti independência. Apesar de fumar 1 cigarro fracionado por dia.
De manhã coincidia meu horário com a escola da menina, sua filha, e conseguia tomar cereal com morango desidratado com leite.
O pai policial estava afastado do trabalho e cozinhava para todas no final do dia. Tratava de comer cada pedacinho com bastante elogio e pouca sacies. Com o passar dos dias e minha frequência na escola, sempre presente, fim de tarde com frio e fome encontro a cozinha trancada. E assim todos os outros dias.
Adorava o lanche de criança de almoço, pão com nutella e pasta de amendoim, todo dia, sem falta, sem suco! Comecei a reparar nos lanches dos colegas do curso da ILSC, eram mais substanciosos ao menos não era cup noodles.
Mas tenho a característica de não modificar as coisas e me adaptar a realidades, por isso aproveitava para tomar um suco na lan house, usar o msn e email, fazer ligação com meu cartão para o Brasil.
Os telefonemas sempre falhavam, decidi não gastar mais com cartão, nem sabia da existência do Nextel muito menos da portabilidade. Fui deixando de narrar minhas descobertas para a família e o namorado ligava sábado de manhã na homestay.
Acordava todos os dias sozinha, quase não via mais a menina na casa, subi na cozinha e comi apenas um pote de cereal, com vontade do segundo mas entendi que era fracionado.
Acordei com neve e os meus passos foram os primeiros a deixar rastro naquele março.
Neste momento comecei a atravessar a ponte para escola a pé, o ônibus era quentinho mas eu tinha mais tempo para ouvir música com meu diskman e ver os trabalhadores civis, loiros e lindos;
Sentia falta de amigos, mas pensei em ficar longe dos brasileiros, mas como não ser amigo de brasileiro? Havia grandes grupos de brasileiros, só observava, porque não tinha identificação nenhuma em ouvir Jamil e uma noites, que conheci por eles, ou alugar limosine para ir em balada de brasileiros.
Estava em Vancouver, Canadá mas viver a vida dos nativos também parecia ilusão.
Um dia ia ao shopping com uma colega que saia com muitas sacolas da Gap e eu de mãos vazias, outro dia ia na loja de maconha e pipe com o pessoal que fumava maconha verde florescente, maravilhosa no cachimbo num barzinho para acomodar e lucrar na larica.
Não estava feliz! Voltava para casa e ainda encontrava a cozinha fechada.
Minha família era de descendentes de britânico, na colônia de British Columbia, mas quase não participei de seus programas, só no dia que cheguei para compras pedi e eles que me deixaram um livro de grandes poetas ingleses e americanos que lia e traduzia diariamente como John Keats, T.S.Eliot, E. Cummings.
Estava estranhando muito ficar sozinha, as trocas esporádicas de e-mail com minha irmã Mariana eram confissões do meu espírito e ela enviava frases de Cioran. A foto do ano novo que passei junto a amigos e irmãs era a força para continuar e querer voltar: Saudade.
Visitei o bairro de assistência social com travesti com plástica de quinta que o deformou, salões para injetar heroína até a morte, mendigos bem vestidos em relação ao Brasil, por causa do frio.
Cioran permitia a leitura dos que vagavam naquele reduto em um amparo sagrado, social e mundano.
Voltava para casa vendo elásticos no chão, parava no boulevard e me purificava no bairro náutico banhado pelo Pacífico, com muitos barcos atracados na costa.
Esquecia da fome, na rua não queria gastar muito dinheiro, queria deixar para esquiar ao ver todos os dias o cume da montanha com gelo, Whistler. .
Os totens nos parques começaram a me impactar no monumento que busca raiz.
Nas andanças descobri o cinema Paramount, entrei e assisti a Nanny Macfee.
Emma Thompson, inglesa protagonizando, criou um mito acerca da minha momstay.
Mudei de casa, queria comer melhor e fui para um bairro nobre, casa grande, quarto com cama queen e calefação.
Assistia televisão com a filipina, fui para Whashington com ela, suas filhas eram carismáticas e compartilhei o andar debaixo com uma japonesa.
O grupo de brasileiros e suas baladas não me interessavam, as filipinas eram bem dadas, os japoneses homens mudava o mês abria outras classes e eles ficavam com a mesma professora fiéis e afeiçoados, as japonesas não se separavam de seus tradutores e provisões, as mexicanas eram bonitas e se agrupavam como os brasileiros, os europeus sabiam de seu glam.
Fiz compras em downtown, joguei bilhar, ia em loja de discos tudo guardado até hoje.
Meus amigos eram Fabi, Wilton e Walter...todos insatisfeitos com a Disney World protestamos em um pub com grandes pints e torcedores de futebol.
Fabi era noiva e queria promoção na empresa, dominando o inglês, Wilton era noivo queria conhecer de tecnologia, Walter queria ficar comigo na falta de levar bronca de seu chefe no Brasil e termos uma experiência juntos de durões em Vancouver, com visto de estudantes.
Fomos para Whistler. Eu não tinha luvas de tactel e Fabi estava mal agasalhada.
A montanha nos jogou, cada um de nós separados fomos explorar as descidas.
Eles foram de snow board eu e Fabi ski nos vimos no final, gelados e cheios de adrenalina.
Fiquei com medo de perder a mão, que estava enrugada e congelada.
Fabi aqueceu minha mão entre as suas. Um dia não vi mais Walter, me arrependi de não ter feito parceria, em nome de um celibato e Fabi foi para Toronto.
Continuei meus passeios...peguei um ferry boat e fui para Ilha Victoria.
Via gaivotas voando ao lado com o vento gelado e pinheiros na orla.
Chegamos, o guia me levou até uma parte, falava, mas resolvi mandar postais para meus pais.
Na ilha Victoria, separada da excursão, entrei numa loja de departamento e me deslumbrei com um relógio da Roots, perdi o horário de volta e a excursão..
Pedi para uns meninos bonitos que esperavam também a volta para Vancouver para ajudar a ler o manual do relógio, entrei no ferry boat e conheci um japonês que fazia universidade da British Columbia e aproveitei o restaurante do barco numa conversa que me pareceu que era o começo da viagem.
Mas o conselho da escola ficou preocupado comigo, ligaram para o Brasil. A conselheira pegou os dados do cartão de crédito do meu pai, comprou minha passagem.
Aya a japonesa que compartilhava a homestay, com quem assisti O Sorriso de Monalisa num combate para ver qual das duas fazia melhor que Julia Roberts, me fez um mini cartão rosa com corações minúsculos dizendo que sentiria saudades e chorou.
Perdi a hora e ganhei uma raiz numa província.

 

terça-feira, 26 de abril de 2016

passeio passional

Caminhamos pelo canteiro central da Av. Sumaré
Lana fala inocente de seu pai, da separação, de doenças, do machismo, da depressão, do suicídio....
Que Raiva. Dela? Não sei. Que Raiva.
A bicicleta quase me atropela, tem faixa de ir e de voltar. A ciclista pedalando, na faixa de ciclistas. Mas tem faixa de ir e de voltar, ela estava na contramão ultrapassando um pedestre. 
Todos estão errados, é culpa do pedestre que a ciclista desviou ou culpa dela desviar do pedestre?Ultrapassando pela direita. Eu estava na sua direita, quando ela ultrapassou. mas
Mas eu estava na faixa de ciclista. Porra! Trocamos de lado, eu e a Lana.
E continuamos a caminhar. E cada assunto fico por dentro como se fosse meu, mas ela falava de si, numa narrativa com entorno e eu era apenas uma ouvinte, até que a bicicleta quase me atropelou.
Culpa de Lana? Se me contou de inocência, de seu pai, da separação, de doenças, do machismo, da depressão, do suicídio. Tô aqui, tô aqui.....e vem a bicicleta e a culpa ainda é minha. Que raiva! 
De quem? Da inocência dela. Sou sabida mas, se me deixa falar, ocorrem inocências por exemplo: processar a ciclista na possibilidade do atropelamento.
É um passeio e com Lana é nuclear. Processar uma ciclista na faixa de ciclistas é inocência. 
Também quero atropelar...
Diz da separação, não sei, ela sim. Machista, o pai que a chamava de puta, ele deprimiu, se viciou em remédio e botou fogo nele mesmo.
Tudo bem comigo pensando assim, também tenho origem e das minhas penas minhas pernas andam, elas que carregam meu peso, meu futuro, meu esquecimento e sofrimento.
O que é essa vida, o que posso fazer? Estou junto. E a invenção? Eu acredito em tudo, mas minha duvida é a Raiva! 
Porque essa história não me pertence, se ouço também é parte minha....não está escrita, estou em pé, caminhando.
Minha revolta não era com essa história, era uma revolta que não podemos fazer nada pela história do outro e quanto mais o outro conta sua história mais a parte fica, fica a sua parte, mesmo que alguém do seu lado morra atropelado.
Quem sofre mais merece mais? O sofrimento dela provoca o meu sofrimento e não é piedade, porque a história dela tem cerco. 
Agora, trocado os lados com as árvores a minha direita, depois do susto. 
Lana diz que foi uma londrina na vida passada, porque gosta do fog, esse nublado da cidade de nuvens cinzas contínuas cobrindo o fundo do céu.
Essa é a cena e a cena teve uma história que me gerou raiva e virou rancor.
As sombras das árvores no chão foi a superfície traidora que ela me distraiu ao lembrar de Jardim das Cerejeiras.
Dançamos com nossa sombra, fiquei puta, Butô não é estereótipo, não é mascara.
Quase nos aproximando da ponte da Estação Sumaré do Metrô, finalmente existi no pretexto.
Depois da raiva do cerco de sua história familiar, por pouco não ser esmagada por rodas de bicicleta e a interpretação superficial das sombras. 
Um pouco de minha alma e meu espírito apesar de sórdido, solitário e das trevas, do meu interior; exemplifiquei o butô. 
Um japonês ultrapassou a gente e sorriu.
Me senti em casa na Avenida Sumaré.
Como praia quando chega em sua ponta, cada uma abraçou uma árvore...resposta?
Voltamos em guerra nuclear, íntima, pública, profissional. 
Homens bonitos nos paqueraram.







debajo de suêno, sueño sin sentido



Ele - E se eles não tivessem esse sonho?
Ela - ...(sonho)
Ele – O opressor cala quando o oprimido fala.
Ela (calada)
Ele - A potência de vida permite paixões.
Ela - Ah

Elas cinco não sabem tocar violão.
Marcam ritmo e urram com todo fôlego, em cadência uma a uma, cada uma se esvazia num contágio em dissonantes estridentes, vozes glissadas, boca chiusa, staccato.

A vida é essa manifestação, de filosofia judaico-cristã a alteridade de planos: entre Deus e a Vida, na vontade, na Voz.

Meu Deus, ele quer me cantar uma música-filosofia: do Nada, do Motivo, da Liberdade.

Sim, Liberdade. Elas tinham o violão e batucavam em seus corpos.

Ele - Porque preencher o Vazio?
Ela- Se o pulmão esvazia, preencho de ar.
Ele – Materialismo, materialismo.
Ela- Se há colunas, há vazio na arquitetura. Se há vaga, estaciona: Ser e o Nada.
Ele – Você é prática...
Ela - Liberdade, liberalismo. Invisível crédito...

Pela luta, Liberdade, por mim, Liberdade, pela prisão, Liberdade, pela conquista, Liberdade.

Ela – E se eles não tivessem esse sonho...

segunda-feira, 25 de abril de 2016

invenção sobre areia de vidas paralelas



Assistência de interno estão cheios de filhos renegados.
Um acha que a mãe não o ama, o outro só fala de sua mãe.
Um faz muito contra a regra, mas não sustenta o medo. 
O outro não tem medo e da regra é exceção.
Encarar a realidade é mais duro que o rivotril.
Um dorme o outro hipnotiza.
As bolas que tomou ficou letárgico: animal-filho, de jeito débil ficou feroz com a mãe; os choques que o outro tomou débil-filho de jeito animal deixou a mãe feroz.
O cordão umbilical afrouxa e estreita em função de um controle institucional.
Na malha fina do psiquiatra, falar de papai e mamãe desperta seu desejo.
Na malha fina da assistência, programas televisivos despertam seu desejo.
A questão pessoal nas mãos de outro é a invenção e a invenção nas mãos do veiculo é alienação.
A história que se conta ao estranho de confiança não tem mais alegria da infância, o entusiasmo com a história da TV, não te faz indivíduo, porém coagido.
Narrar seu drama ganha comédia, palavras ganham peso e experiência exemplo.
Tramas, acerto de contas, vinganças, fofocas, promovem o plano da falsa experiência.
Alastrados pelas ruas, bancas de revista cada doido vive a tragédia silenciosa.
Sem mãos dadas à mãe, choram luzes e absurdos deslocados.
O caminho é a direção errada, indo e voltando ao mesmo tempo, da origem ao destino; falso ou verdadeiro. 
É invenção sobre areia as vidas paralelas.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

empunhada por dentro de um livro, um conto para fora.


Empunhado nas mãos, dentro do livro, contos elegantes que misturam coser e tecer....tecelagem do texto. Toda familiaridade com a alfaiataria, tecidos, caimento...descritos na narrativa do conto dela.
Acendeu a festa de quinze anos, o convite para dançar.
Desde às visitas a Tecelagem Cinerama com minha mãe às medidas por tirar, o costureiro escolhido pela minha amiga tem seu preço final e para nós começo de conversa.
Conhecido trabalho de alfaiate, vista do croqui, o tecido, o modelo eram escolhas da debut.
Para minha mãe era uma visita investigativa sobre o curioso entendimento do projeto de celebração.
Minha amiga Samathinha, ganhava muito mais dinheiro que eu da fada do dente e ela me deu um lugar no seu sonho.
Depois de todas as visitas ao costureiro, medidas e acertos: o vestido em duas partes juntas.
A saia com caimento e rigor da forma sobre muitos tules com bainha bordada.
Inteiro azul celeste, corpete de renda que delineava o busto e com alças.
Unificado a saia numa costura invisível tal vestido, com seu peso dava delícia de entrar.
Por uma noite tive um par, de mãos dadas dançamos a valsa.
Grande festa no Buffet Torres, todas meninas de azul e meninos de smoking faziam o corpo.
Samanthinha fez troca de roupa, suas jóias a ambos os vestidos eram de dar gosto.
Bebi champagne por entre espelhos, flores, lustres toda delicadeza do alfaiate, às amizades o brinde.
Empunhado em mãos, dentro do livro, seu filho viu a esperança, voando de patinhas finas e verde. A visão da esperança da mãe era o pouso dele no seu corpo. Um louva-deus...
Aqui vimos a lagarta verde delineada de preto com o pigmento laranja dentro. Na parede...longe da folha, do tronco, da árvore, da terra, da pedra. 
Ela queria uma foto, mandar para a irmã, diz que sua irmã a chama de lagarta.
É porque está em maturação para o vôo. Logo ela, da poética firme...negra bonita...num evento para crianças.
Nunca chegamos a lugar algum, mesmo no lugar do acontecimento, o lugar que estamos é o que temos, mesmo pacífico, o conflito interno busca se harmonizar, a permanência de um estado pacifico é desapropriação de conflito interno.  
Essa voracidade calma de todos os dias, esse apelo ao outro por meio de assunto comum ...
Todos estão assentados sobre o que são, o outro é mera interlocução para se identificar.
Aficionados por si mesmo nas estórias que sabem toma-se leitura empunhando.
A leitura da poética firme e beleza negra, remete a Cruz e Souza da erudição, filho de escravos alforriados, ganhou tutela de ex-senhor, adotou o Souza, foi letrado e grande poeta simbolista.
Um gafanhoto voando para o filho é esperança ao pousar no corpo da mãe ganha nome de esperança, a poética na negra firme vê a lagarta e não está pronta....
Creio que voar é a esperança
Empunhado em mãos, o livro por dentro das mordidas e tapas no irmão, enciumada a filha mais velha, crises nervosas e choro raivoso do impulso inicial do nascimento de que estou por fora, que o pai só tem seu colo e incompreensão de tal natureza feroz...
Por dentro dele que tem a prosperidade, escrever é seu mote.
O homem não tece a teia da vida; ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia, ele faz a si mesmo.
Por entre fios vermelhos e brancos, entre quatro colunas, uma emaranhando de paz e guerra.
Entro no meio na maior concentração de fios e enfio minha cabeça, sentada no chão.
Minha cabeça apertada numa sensação de carinho e pressão, penso que o outro também merece carinho e pressão.
Se sou o fio da teia da vida, o que jogo na teia é o que volta para mim: Guerra e Paz, carinho e pressão é o que faço para você.

terça-feira, 19 de abril de 2016

incorporado



Cada passo pela rua se ergue ao olhar do outro, cada olhar rebaixa aos quadris, no movimento basculante, entra momentaneamente em transe. 
Mas veio de um lugar onde há apoio, mexe os braços com seu vão em torno do corpo, a respiração causa pertencimento em meio a multidão.
Os olhares ficam mirados na face, confirmação de sua presença, quando não lambe os beiços, no fundo quer constatar e só, isso é muito pouco, o fundo do olho reconhece e paira sobre sacolas, cores, cabelos, roupas, chapéu, tatuagens...
O que vem antes daquilo estampado, aquilo que houve um trabalho, uma escolha, aquela marca feminina ou o homem corpulento...despertam desejos e necessidades apenas no campo aspiracional.
É a carga da caminhada...entusiasmo, apoio que vem antes, encontro no enquanto e projeto que vai solto
Chão de ladrilho, pedaços formam quadrados, estranha mania do preto e do branco, da rua um grande quadrado, segue uma reta quadro a quadro.
Cada passo pela rua um olhar, que decai embaçado, para dentro vê...do lodo do seu estado de espírito, seu andar massante, incorporado. 
A caminhada não é mais sua, a linha não traça mais, anda quebrando para lá e para cá, nos quadrados do chão transita a própria vertigem.
Um homem de camisa social cospe no chão e ela sente que tudo é flúido na multidão, neste trajeto pegajoso.
Transferência de sentimentos preenchem o peito, apertam o coração, embrulham o estômago, retorce o rosto.
Quer livrar-se de todos, de toda camada que lhe chega a dor.
Perde o limite, mulheres viram inimigas e o homem bandido...
Aperta o passo, mexe no cabelo.....anda atrás de duas amigas que conversam: uma bem gorda a outra bem magra, não ouve o que dizem com a visão do coque e do rabo de cavalo, não sabe se observa a retidão de uma ou o alinhamento da outra, ultrapassa rebelde.
Olha para o tênis do menino que entra na galeria com um pulo, o mundo indo para frente e ela sempre atrás...
Entra na loja do coreano, as peças minúsculas, brilhos...trazem alegria. Cada peça que pega na mão imagina o mais bonito adorno para se fazer notar.
É observada pelo funcionário na entrada e saída da loja, do fundo do corredor a coreana impassível, é levar ou roubar, o pagamento realmente é o desaforo.
Mas veio de um lugar que há apoio e isso é muito pouco para uma vergonha ou poder.
Desce para o fluxo, cheia de antíteses...
Da poluição da rua só a arquitetura se ergue ao seu olhar, do tico do seu céu pensamento de nuvem.
Para na frente da livraria, gosta do cheiro de café e da reserva dos atendentes, tempo morto que cava espaço interno, prateleiras, temas, best sellers,. Que personagem seria? 

sábado, 16 de abril de 2016

Pura Vida

A escuridão do ser está na sua revelação, na aparente superfície das coisas, o sensível se manifesta com a transmissão afetiva ao objeto.
A propósito de haver roteiro, existe non sense, acaso, caos e qualquer expressão  traz a experiência vivida de quem se manifesta. Independente de síntese há o sentido, mesmo sem significado a percepção é a porta de entrada para o agrado ou o incomodo. Mas não há como negar o fato, a impressão fica naquilo que vem a luz. Mesmo na luz equilibra a incidência dela para um breu satisfatório.
Assim, os dias são variados em dispersão e concentração, em positivo e negativo, em negar e aceitar. A própria contradição de ser engloba o sucesso e o fracasso, por tal entrega nas situações interessadas.
É preciso insistir nas coisas para elas mudarem de estado, uma cosmologia da energia vital que ao enfrentar barreiras pode encontrar um impedimento, mesmo na face da aceitação. Persiste por sua natureza, algumas forças hostis expulsam a presença, a dúvida sempre existe entre esforçar ou afrouxar. E até desistir...
É preciso amor, prazer, tesão, crença, visão, tato, olfato, devoção à escuta e apreciar a beleza que salta à seu tipo de sangue...
Mas a porta que abre é a tomada de consciência de quem está interessado em te receber e ser gentil.
O objetivo, o foco, a força visam a conquista, é tentativa, é repetição é apresentação inteligente.
Isso sensibiliza, dá calafrios, suadouro nas mãos, bocas secas, olhares duros ou macios, silêncios trágicos, falas investidas de desespero contido num comportamento que não tem forma pré-estabelecida.
Trata-se de conhecimento, referência, história.
A inveja, o ciúmes na roda do contexto,  tritura poder e cede à forças que desmantelam a pura sensação em respiração paralisada, desvincula-se da emergência da vida em complexos que vem me habitar. Saio de casa.
Posso provocar total desconfiguramento do sistema, distúrbio social, desequilíbrio emocional e uma fantasia econômica.

Fico atrás da porta fechada na espera de chaves para abri-la e se tenho as chaves quero me transmutar em escada, janela, planta....mas piso no tapete vermelho e meu caminhar tem a responsabilidade de erguer-me na companhia do corrimão e para-peito. Caio no sono.

segunda-feira, 28 de março de 2016

moléstia

A expectativa do ouro brilha mais não esquenta.
A cobrança, para obter a riqueza, vem dedo em riste que engendra e reverbera rigidez; do trato decepciona.
Do que esquenta, esquece o calor, do carinho dos bens.
A credibilidade transeunte, teia de pensamentos solto nos cruzamentos da cidade; de salvaguarda: um cuspe ou um assalto de consumo.
Aniquila-se aqui para ser salvo ali, na travessia da ponte.
Perfil de marfim, esquenta os motores, padece sensores.
O amor de mãe da louça à mesa, a faca e o pão estende ao sopro de um coração judiado que projeta à luz da imagem, o amor.
A imagem instantânea, fugaz, luminoso selecionado de própria raiz.
Tronco sem desenvoltura, nódulo, fixa a celebridade como salvação.
O amor se amplia na pertinência da expectativa, e reduz na cobrança que decepciona,
Da credibilidade transeunte espelha livremente o que contém as moléstias degradantes.  

Música e besta é o acorde do que se apaga do amor.
Invulnerável memória.


quarta-feira, 16 de março de 2016

tempo da visita

Uma visita
Leva a aflição da vida
O tempo se acumula na culpa
De não estar presente quando o pensamento resgata
Lembrança de tempo que já não é mais
É história dentro da história que ouviu
Tempo, para estar a tempo

domingo, 6 de março de 2016

resposta


Você está aqui. Procura o conteúdo. 
Palavras corridas tendem a significar.
Na leitura se identifica ou rejeita.
Texto é matéria. Uma caminhada gera pensamentos.
Em órbita para o encontro, nota uma árvore: sem folhas e só no centro de um monte.

Esta presença quer resposta.

?

quinta-feira, 3 de março de 2016

b-side

Com referência da infância; à mesa com jovens aspirantes a adulto, enrolada e distraída deixou-se levar como num acampamento para jogos e brincadeiras.
Largada pelos pais nas férias, tinha a si mesma, um integrante a mais, bobo que sucumbe ao golpe que nem desconfia.
Uma alegria doente de bem-estar viciado.
Um convite para ocupar o tempo contra seus hábitos, de sua natureza contemplativa, apoiou seus braços na mesa como protesto íntimo de ser levado na maioria.
Viu olhares confidentes e interessados, movidos por curiosidade enquanto sua visão era da vela que iluminou sua noite.
Vista boa, manhã agradável e vento renovador, dentro gostava mesmo de pequenas mortes que causava a si um refúgio do brincar.
No meio não suportava o falatório que decifrava como escape de gente que vê azul concomitante ao seu belo revés.
As festas eram frias expectativas onde o olhar era um mirante de cálculo oportuno.
Previsto o teatro se desvencilhou numa conduta de defesa do trágico fim levados por sentimentos em extrato.
Entre todos por recreação, tinha seus inimigos imaginários, que trata como real por portar-se estranho no familiar, a dúvida da credibilidade e pequena a confiança.
No retiro seu éden, visto como polo negativo achava babaca a perpetuação da espécie.
Manteve pensamentos possíveis da crise que gerou, sem limiar da ficção com a realidade.
Distúrbio em si mais amplo que o estreito fato. A busca por certeza definia angústia, a realidade era pouca coisa perto da elaboração.
Cada segredo, cada intimidade num mundo explícito o que se esconde é previsto.
Onde confiou era fingida e ele era falso. Acreditou viver a verdade e julgou os outros mentirosos.
Surpresa do que não se domestica, o desconhecido, o nascimento, o bebê, a novidade do imprevisto.

Das vontades realizadas de um desejo que nasce com propriedade a resposta da solidão escolhida por sua companhia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016



Do entrelaçamento. 
Uma perna estica na dobra a outra dobrada se ergue sobre o pé.
Ambas se cruzam, cruzadas.
Caimento gentil do braço que abraça.
As mãos na base se juntam sempre a pegar o equilíbrio.
Pênsil.
Há presilhas na cabeça de cabelo... entrelaçado.

dois




Não estão nítidos na conformidade de liga. 
Cada um não está claro. 
São distintos e turvos. 
Opostos entre si.
A veste e ao que abrange.
Sem limpidez interpõe o corpo à fonte de luz.
Há duas aparências, duas silhuetas.
Há dois espíritos tristes. 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

do quarto de domir

Deitada na cama no escuro, com os pés juntos, fortes e firmes penso a próxima situação que os braços teriam essa condição.  
Olho a veneziana aberta, no escuro da noite e do quarto, vejo um pinheiro muito alto e frondoso ao longe. Ouço um pássaro que faz barulho de pato, me sinto acalentada por meu pai. 
Olho por muito tempo sem pensar em nada, apenas na harmonia de ser uma pessoa de inverno. 
Ao mesmo tempo que os calores dos que se encontram facilitam as pessoas de verão, estou ali frustrada por querer mudar minha natureza e transito por entre os livros bobos pela madrugada. 
O peso do corpo já é o suficiente mas os pesares do psicológico são invitáveis. Armo arapucas, dou leitura do que não há, encerro o que me é próprio e, portanto, ler seja a mais inútil necessidade para continuar neste ciclo até a exaustão e dormir. 
Mas sempre há o dia seguinte, enquanto ele não chega, estou na madrugada existencial. 
Minha porta se abre, entra minha mãe com um rosto pálido e olhos minúsculos; doida de pedra nada quebra seu barato: fala que viu o farol do meu carro que eu havia saído, solto uma gargalhada pelo surto de sua afirmação, que não era real. Perdurou até o amanhecer quando recobramos os parafusos em queda livre.
Estou em falta com meu espaço, com minha diversidade de itens.
No quarto tudo acumulado, trocas de roupa na cadeira, bolsas e sacolas embaixo da penteadeira, prospectos de teatro, receitas, cadernos, livros de colorir na mesa de trabalho, faixas de cabelos, caixas porta treco e os treco fora dela em cima da penteadeira junto de meus objetos decorativos. Puxa aqui uma coisa e você se vê a voltas refazendo a bagunça, decidi jogar o lixo no lixo. 
Alguma lógica que exclui, desapega faz olhar suas coisas com mais serventia e portanto a lógica funciona. 
Tudo vai para o lugar e o pertencimento móvel ganha autonomia. 

  



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

pega nada, dona do carnaval

Passou anos no vai e vem, vem e vai, parte e cola, fica um pouquinho, de pouquinho em pouquinho, ficou bastante. 

Quer tudo e nada mais têm. 

O nada, a memória, do vivido, um rosto e olhar lânguido, não perde a imagem do amor, tão instável, fez paixão. 

Amorosamente perdoou, apaixonadamente errou. 

Partiu o carinho do amor sem maturidade, se lançou no peito jovem, beijos elegantes de um carnaval de pele mulata, negra e branca. 

Beijou ele, depois ele lá, ela acolá e mais uma vontade errada. 

Pega pega, esconde esconde, enrosca, desfaz. 

Entorpecida, se nubla de particularidades. 

Vê o povo de corpo da América, Europa e África. 

Movimento, gesto, máscara, brilho: todos saltam aos olhos fechados mais fáceis de transfigurar no centro do rosto o sorriso aberto convidativo em lágrimas românticas face ao que exclui, ao que ergue a fantasia, o que espera e o que não espera, como o bloco que fica parado ao passo que não acompanha a música. 

Emoção flui em idiomas do mundo como uma onda no mar de Lulu Santos, junta zona norte e zona sul banhado pelo litoral, não leva nada e circunda o corpo-carnaval que se refresca no Rio 40 graus. 

Quarta-feira de cinzas só sabe de mais nada, a memória do vivido e do jovem.