terça-feira, 19 de abril de 2016

incorporado



Cada passo pela rua se ergue ao olhar do outro, cada olhar rebaixa aos quadris, no movimento basculante, entra momentaneamente em transe. 
Mas veio de um lugar onde há apoio, mexe os braços com seu vão em torno do corpo, a respiração causa pertencimento em meio a multidão.
Os olhares ficam mirados na face, confirmação de sua presença, quando não lambe os beiços, no fundo quer constatar e só, isso é muito pouco, o fundo do olho reconhece e paira sobre sacolas, cores, cabelos, roupas, chapéu, tatuagens...
O que vem antes daquilo estampado, aquilo que houve um trabalho, uma escolha, aquela marca feminina ou o homem corpulento...despertam desejos e necessidades apenas no campo aspiracional.
É a carga da caminhada...entusiasmo, apoio que vem antes, encontro no enquanto e projeto que vai solto
Chão de ladrilho, pedaços formam quadrados, estranha mania do preto e do branco, da rua um grande quadrado, segue uma reta quadro a quadro.
Cada passo pela rua um olhar, que decai embaçado, para dentro vê...do lodo do seu estado de espírito, seu andar massante, incorporado. 
A caminhada não é mais sua, a linha não traça mais, anda quebrando para lá e para cá, nos quadrados do chão transita a própria vertigem.
Um homem de camisa social cospe no chão e ela sente que tudo é flúido na multidão, neste trajeto pegajoso.
Transferência de sentimentos preenchem o peito, apertam o coração, embrulham o estômago, retorce o rosto.
Quer livrar-se de todos, de toda camada que lhe chega a dor.
Perde o limite, mulheres viram inimigas e o homem bandido...
Aperta o passo, mexe no cabelo.....anda atrás de duas amigas que conversam: uma bem gorda a outra bem magra, não ouve o que dizem com a visão do coque e do rabo de cavalo, não sabe se observa a retidão de uma ou o alinhamento da outra, ultrapassa rebelde.
Olha para o tênis do menino que entra na galeria com um pulo, o mundo indo para frente e ela sempre atrás...
Entra na loja do coreano, as peças minúsculas, brilhos...trazem alegria. Cada peça que pega na mão imagina o mais bonito adorno para se fazer notar.
É observada pelo funcionário na entrada e saída da loja, do fundo do corredor a coreana impassível, é levar ou roubar, o pagamento realmente é o desaforo.
Mas veio de um lugar que há apoio e isso é muito pouco para uma vergonha ou poder.
Desce para o fluxo, cheia de antíteses...
Da poluição da rua só a arquitetura se ergue ao seu olhar, do tico do seu céu pensamento de nuvem.
Para na frente da livraria, gosta do cheiro de café e da reserva dos atendentes, tempo morto que cava espaço interno, prateleiras, temas, best sellers,. Que personagem seria? 

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